sexta-feira, 19 de junho de 2015

Estudantes brasileiros não entendem o que leem - Jornal O Estado de S. Paulo – GERAL

Educação
Estudantes brasileiros não entendem o que leem
Em avaliação internacional, ficaram em último entre os de 32 países

Brasília – O aluno brasileiro não compreende o que lê, revela o resultado do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), divulgado ontem. Entre 32 países submetidos ao teste, o Brasil ficou em último lugar. A prova mediu a capacidade de leitura de estudantes de 15 anos, independentemente da série em que estão matriculados.
“Esperava um desastre pior”, disse o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, ao anunciar o resultado. Em primeiro lugar ficou a Finlândia. Em penúltimo, à frente do Brasil, o México. Dos 32 países avaliados, 29 fazem parte da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – entidade que reúne nações desenvolvidas, como os Estados Unidos e o Reino Unido, e outras nem tanto, como a Polônia e a República Checa. Os demais países participantes foram Brasil, Letônia e Rússia.
A prova foi aplicada ano passado (2000), envolvendo ao todo 265 mil escolas públicas e privadas. No Brasil, participaram 4,8 mil alunos de 7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e do 1º e 2º anos do Ensino Médio. O objetivo foi verificar o preparo escolar de adolescentes de 15 anos, tendo em vista os desafios que terão pela frente na vida adulta.

Erros- Com média de 396 pontos, numa escala que pode ultrapassar 626, os alunos brasileiros foram classificados no nível mais elementar. Ou seja, são praticamente analfabetos funcionais, capazes de identificar letras, palavras e frases, mas não de compreender o sentido do que leem. Técnicos da OCDE que analisaram o resultado do PISA concluíram a tendência de “responder pelo que acham e não pelo que efetivamente está escrito”. Numa das questões, por exemplo, o texto informava que uma enfermeira aplicaria uma vacina nos funcionários de uma empresa. Apesar disso, 27% dos alunos brasileiros responderam que a vacina seria aplicada por um médico. Para os técnicos, “a identificação da alternativa correta exigia apenas uma leitura atenta do texto”.

Atraso – “A escola brasileira tem de ensinar o aluno a ler”, disse Paulo Renato. Ele atribuiu o mau desempenho ao atraso escolar, ou seja, ao fato de metade dos alunos de 15 anos submetidos à avaliação frequentar a 7ª ou a 8ª série – quando, pela idade, já deveria ter concluído o Ensino Fundamental e estar cursando o 1º ano do Ensino Médio. “Não é que o ensino seja ruim, há muita repetência”, disse ele, lembrando que 4 em cada 10 alunos de 1º grau no país têm idade acima do previsto.
O ministro voltou a defender o sistema de ciclos, que a retenção só ocorre na 4ª ou na 8 série, independentemente do rendimento escolar dos estudantes. A presidente do Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas Educacionais, Maria Helena Guimarães de Castro, disse que “a cultura de repetência” só prejudica os alunos. “O reprovado volta para a mesma escola e tudo se repete”, afirmou ela.

Distorção de série e idade prejudica aprendizado

O fato de aluno estudar ou não na série correta para a sua idade tem um efeito direto no desempenho no PISA. Em geral, esperava-se que um garoto de 15 anos estivesse na 1.ª série do Ensino Médio. Mas no Brasil boa parte dos estudantes dessa idade ainda não passou da 8.ª série, segundo o INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS e PESQUISAS EDUCACIONAIS (INEP).
Em 2000, 41,7% dos alunos de Ensino Fundamental estavam atrasados pelo menos dois anos. Por isso, calculava-se que aproximadamente metade dos 4.800 estudantes que fizeram a prova do PISA estão ou na 7.ª série ou na 8.ª série. Os resultados do PISA indicam claramente o quanto a distorção entre idade e série é negativa para o aprendizado. Na média, um brasileiro que estudou menos de oito anos consegue, por exemplo, reconhecer a ideia principal de um texto. Mas não é capaz de colocar em ordem as várias partes de um texto a fim de identificar a ideia principal (nível 2, segundo a escala do PISA).
No entanto, conforme aumenta a complexidade, observa-se uma diferença maior do desempenho dos países desenvolvidos. Uma comparação entre Brasil e Estados Unidos ajuda a entender o que isso significa: enquanto um jovem brasileiro que já concluiu a primeira série do Ensino Médio atinge o nível 2 – o máximo que os estudantes brasileiros conseguiram chegar, um norte-americano, na mesma situação, chega ao nível 3. Apesar disso os alunos brasileiros que estudaram nove anos ou mais e estão na série correta têm desempenho comparável aos garotos dos países desenvolvidos: fizeram 431 pontos.
A maioria dos países avaliados chegou ao nível 3. Esse bloco incluiu, predominantemente, nações desenvolvidas. Além do Brasil, países como a Polônia, o México e a Rússia não passaram do nível 2. Só a Finlândia, o primeiro colocado no ranking, chegou ao nível 4, o qual incluiu a capacidade de fazer uma avaliação crítica de um texto.
Para o ministro Paulo Renato Souza, esse desempenho está diretamente relacionado com o grau de desenvolvimento sócio-econômico. Baseava-se em indicadores como o PIB, por exemplo, que mede a concentração de renda. Ele afirmou que o desempenho dos estudantes acaba sendo prejudicado pelas condições de vida dos brasileiros.


Jornal O Estado de S. Paulo – GERAL
Quarta-feira, 5 de dezembro de 2001.

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